Com uma área de 377.975 km² e mais de 126,3 milhões de pessoas, o que falta no Japão é espaço. Por isso a forma como eles lidam com lixo no Japão é um exemplo a ser seguido. Entre os vários processos para redução e reciclagem de lixo está a queima (e seu aproveitamento energético) e a separação minuciosa dos resíduos feita por todos.
A cultura por lá é baseada nos famosos 3Rs (Reduzir, Reciclar e Reutilizar). A mudança na forma de pensar é tão eficaz que fez com que um pequeno município chamado Kamikatsu com 1.517 habitantes chegasse a um dos mais altos índices de reciclagem de resíduos: 81%. Apesar do exemplo, a forma como o japonês lida com o lixo é questão nacional e está apoiada em leis, controle de dados, economia circular e respeito.
A seriedade com que a questão do lixo é tratada no arquipélago é reflexo de um sistema de gerenciamento de resíduos sólidos eficiente e que consegue reutilizar 96% do lixo que coleta. Vendo isso daqui do Brasil podemos até pensar que sempre funcionou assim – mas a história é outra. Em 1995 o Japão reciclava apenas 3% das garrafas PET mas já no censo de 2010 esse número passou a 72%, ou seja, um crescimento de 250% em 15 anos.
A separação do lixo começa na casa de cada um, já que a separação de resíduos não é uma escolha e sim, uma ação imperativa. De grosso modo funciona da seguinte maneira; cada material possui um preço diferente para o descarte, ou seja, um preço para o poder público e privado coletar os resíduos e destinar ecologicamente. Por isso, cada pessoa paga pelo lixo que gera, dando ainda mais valor aos próprios resíduos.
Mas você deve estar se perguntando, como o governo e as empresas fazem para receber o dinheiro equivalente ao lixo que vão coletar e reciclar na casa de cada um? Bem simples, os resíduos devem ser separados cada tipo em sacos diferentes e cada saco deve ser comprado no mercado (ou drogarias) com valores variáveis onde impostos e taxas já estão inclusos.
E não pense que isso se limita apenas às residências. Empresas e indústrias também têm suas responsabilidades e obrigações com o lixo que gera. É importante frisar que a quantidade de latas de lixo diferentes assim como taxas e regras de reciclagem variam de uma cidade para outra. Para que todo morador entenda as formas de separar seu lixo, as cidades disponibilizam cartilhas para a população; essas cartilhas podem ser retiradas na prefeitura e nelas, há imagens e bastante texto explicando sobre os materiais recicláveis.
Como funciona a coleta de lixo no Japão
Na cidade de Saitama, vizinha de Tóquio há as indústrias do lixo no Japão, elas levam aproximadamente 400 toneladas de lixo por dia. Esse lixo chega já separado entre recicláveis e orgânicos e chegam divididos em caminhões específicos para cada tipo de resíduo. Tudo é automatizado, o setor que cuida do lixo orgânico é operado por um profissional de dentro de uma sala de controle. O reciclável funciona da mesma forma, com uma garra de aço capaz de transportar até 3 toneladas de carga. No final do processo tudo sai compactado, limpo e pronto para ser vendido para centros de reciclagem.
Para que tudo dê certo, o Japão aposta na educação da população com orientações sobre a forma de separar lixo, e também, com educação ambiental nas escolas.
Em cidades como Saitama não existem lixões e nem mesmo aterros sanitários. Depois que os resíduos chegam e já estando separados, são queimados à temperatura de 1.800 graus centígrados (um processo semelhante ao Coprocessamento que já conhecemos). Durante a queima, forma-se um gás que é usado para gerar energia após passar por uma tubulação que alimenta uma turbina. Essa energia gerada pela combustão tem a capacidade de alimentar cerca de 10 mil casas. A sobra dessa queima são os resíduos e metais, que são reutilizados para asfaltar ruas.
Lixos Queimáveis, não-queimáveis e plásticos
Os Youtubers donos do canal Japão Nosso de Cada Dia, explicam um pouco mais sobre a separação doméstica de lixo no Japão. Uma embalagem contendo 10 sacos plásticos para lixo custa 350 ienes na cidade de Ueda-Shi. O saco para lixo mostrado em um vídeo é para lixo queimável, que, na cidade do casal youtuber, faz a coleta de 2º e de 5º feira dentro do horário estabelecido (caso alguém coloque o lixo para fora em horário indevido deve arcar com multas).
Algumas orientações para a separação do lixo doméstico queimável:
- Para o lixo de cozinha é necessário: retirar o excesso de água e na medida do possível transformar o lixo orgânico em adubo.
- Papel: na medida do possível separar os papéis recicláveis. No caso de fraldas descartáveis deve-se retirar os resíduos e, também é possível descartar nesse saco plástico, lenços de papel
- Objetos de couro ou tecido: na medida do possível retirar partes metálicas
- Madeira e galhos: se não couber no saco de lixo, deve-se cortar os pedaços em até 70 cm de comprimento, e agrupar em maços de 30 cm de diâmetro (o diâmetro de cada galho não deve ser maior que 8cm).
- Por fim, a pessoa deve amarrar o lixo e colocar seu nome e o nome do bairro. Isso acontece para o caso de, se a pessoa descartar de forma incorreta, eles procuram a pessoa e a ensinam a forma correta de fazer o descarte.
Orientações de separação do lixo no Japão para lixo plástico
- No bairro deles, esse tipo de lixo deve ser colocado para fora de casa às sextas feiras
- Os recipientes e embalagens de plástico com uma marca específica são separados manualmente para serem reciclados. Assim, a população deve lavar ou limpar para remover as sujeiras.
- Os exemplos de resíduos sólidos apresentados em desenhos são: bandejas, isopor, recipientes e embalagens de alimentos, embalagens de doces ou salgados e recipientes de marmita.
Como separar lixo não-queimável no Japão.
- Passa às sextas feiras também
- Objetos de metal: Panelas e frigideiras, papel alumínio, lixos de metal, guarda-chuva, aspirador de pó, secador de cabelo, forno microondas.
- Produtos de couro sintético, borracha ou plástico: brinquedos, baldes de plástico, tênis, botas, fitas cassete e de vídeo, escovas de dente
- Objetos de vidro ou cerâmica: lâmpadas, tigelas e pratos, vidros
O cuidado com os resíduos não se limita ao momento da separação. As embalagens dos produtos também costumam vir com símbolos e números indicando o material e, dessa forma, o local correto de descarte. Uma garrafa PET, por exemplo, vem com com indicação de que a tampinha e o plástico que envolve a garrafa devem ser descartados separadamente da garrafa PET. No caso de latinhas também há símbolos indicando se elas são feitas de aço ou de alumínio, o que torna a separação ainda mais fácil.
No caso de embalagens tipo tetra park, elas devem estar limpas, secas, cortadas e dobradas de uma determinada maneira. Após a reciclagem essas embalagens viram papel higiênico. Bandejas de isopor também devem estar limpas e secas e se transformarão em canetas. Esses resíduos sólidos podem ser inclusive descartados em supermercados.
Em shoppings centers também existem pontos de coleta para papelão e garrafas PET e a cada garrafa descartada a pessoa ganha pontos que podem ser usados dentro do shopping. Alguns tipos de lixos como revistas e roupas podem ser descartados em pontos de coleta específicos para receber esse resíduo. Apesar de serem pontos de coleta voluntária, o descarte pode ser feito apenas 1 dia no mês durante 24h e, no caso desses pontos, o japonês não paga nada para descartar.
Esperamos que você tenha gostado de saber um pouco como funciona a separação de lixo no Japão e sua reciclagem. Você também vai gostar de ler: Guia Definitivo da Reciclagem